Home > Matérias > A AOG – Propõe-se entrevistar: Criatório Quincas

A AOG – Propõe-se entrevistar: Criatório Quincas

Entrevista Criatório QUINCAS
A AOG – Associação Ornitológica de Gravatá – PE propõe-se entrevistar:

Quem|
Julberto Garrido Crispim Junior (Júnior) – Criatório Quincas – Especializado em Azulões.
Onde| Ourinhos – São Paulo
Por que| Tudo começou em 2006, com um sonho que eu tinha de obter novamente um azulão que me trouxesse tantas alegrias quantas um, me trouxe na infância… foi nesta ocasião que o “Seo[1]Madruga” veio parar na minha casa… e com sua morte… a necessidade de criar para preservar… e um dia quem sabe… obter outro com tão belo canto… estamos engatinhando ainda… mas firmes no propósito de criar com qualidade e responsabilidade, respeitando as leis vigentes e a natureza.
FRASE que o define | Canto Paraná minha paixão.

Contatos:
Facebook.com/criatorioquincas
quincas@expressonline.com.br

[1] “Seu”, nesse caso, é uma forma popular deabreviar a palavrasenhor”. Além da variação “seo”, também é possível encontrar o termo, sobretudo em autores da primeira metade do século XX, grafado em itálico ou mesmo entre aspas, como forma defrisar sua essência “errada”.
E N T R E V I S T A R E A L I Z A D A
AOG – Conte-nos como tudo começou? Quando surgiu o interesse em pertencer ao meio Ornitológico. E trace uma estória até os dias de hoje.
Criatório QUINCAS – Tudo começou no início dos anos 90, eu morava na Barra Funda, bairro antigo da minha cidade, meu “paidrasto” (mistura de pai e padrasto, pois me criou desde os 9 anos) era vendedor em um atacadista de secos e molhados, e ele tinha um cliente chamado “Seo1 Toloto”, era comerciante, tinha uma “venda” no meu bairro. Nas férias eu costumava sair com meu pai para trabalhar. Em uma visita ao Seo1 Toloto, vi que ele tinha em um quartinho no fundo, um monte de gaiolas, todas penduradas de forma ordenada, eram gaiolas todas diferentes, mas tudo muito arrumado. Vários canários, quase todos reproduzindo, me apaixonei pelos filhotes. Como eu tinha um casal de periquitos herdados do meu avô postiço (pai do meu padrasto), resolvi começar com eles e colocar ninho. Bingo! Nasceram os primeiros filhotes na minha casa. Fui picado pelo bichinho da criação, ai não parei mais. Partimos (meu pai e eu) para os canários. No mesmo ano, em uma visita a um grande criador de Marília- SP, o Sr. Valter Gatti, trouxemos vários exóticos, calafates, manons, mandarins, star finch´s, degolados, calopsitas, diamantes de gould, foi então que a coisa saiu do controle, virou doença. Chegamos em um ano, a ter mais de 1.000 aves em casa. Era inviável. Foi então que decidimos nos especializar em canários. Associamo-nos ao Clube de Marília, a UCRM (União de canaricultores da região de Marília), adquirimos casais de criadores já premiados, e tiramos vários bons filhotes, participamos de concursos, foi uma época muito boa, aprendi demais, tive muita ajuda. Devo muito a antigos criadores. Sempre visitei bastante e graças a Deus, fiz muitos bons amigos. Mas o tempo passa, chegou a faculdade, saí de casa, a criação parou. Foi em meados de 2000, já com minha empresa, casado, com minha casa, que decidi retornar a velha paixão, mas desta vez com azulões, uma ave que tive no passado, no meio das mil, e que me trouxe algumas alegrias. O que me motivou a criar azulão? Diziam ser impossível criar em casa. Foi ai que apareceu o “Seo1 Madruga”, azulão com canto diferenciado, muita fibra. O Criatório Quincas hoje existe, pelo simples fato de que ainda terei outro azulão, com as características do Seo1 Madruga, mas nascido aqui em casa. Lá se vão 12 ou 15 anos (oficialmente 12 anos) nesta lida. Como não existe literatura específica e poucos são os criadores que buscam se aperfeiçoar, tive que aprender tudo na raça, pegando muitas dicas de criadores de bicudo e curió (que estão pelo menos 50 a 60 anos na nossa frente). Mais uma vez, fui agraciado com a amizade de grandes criadores. Pessoas abnegadas e que nunca me deixaram na mão. E assim fui desenvolvendo meu manejo. Tudo começou e chegou ao que tenho hoje, graças a paciência da minha família e aos ensinamentos dos mais experientes, motivos estes, que me levaram a criar o canal no YouTube, compartilhar o pouco que sei, com os que tem a mesma paixão que eu.
Meu início na criação de Aves.

Meu início na criação de Aves.

AOG – O que o levou a buscar fazer um manejo diferenciado? Noto seu extremo interesse em suas entrevistas pelo cuidado e manejo.
Criatório QUINCAS – Como não existe um livro intitulado “Aprenda a criar azulões em 10 lições”, tive que escrever o meu (risos). Como aprender algo que não está na literatura, tão pouco existem pessoas que o fazem? Não pode ser de outra maneira se não por analogia e empirismo. Fui atrás de criadores de silvestres, então cito aqui grandes amigos, de minha cidade, o Valdir do Criatório Canarinho (curiós), Luis Cesar criador de curió e bicudos, também quero aqui fazer uma homenagem póstuma ao amigo Enézio, criador de bicudo das antigas, profissional da protética, que muito me ajudou desde o tempo dos canários. Com o advento da internet e os grupos de discussão do Yahoo, conheci os amigos que seriam a minha verdadeira base de conhecimento, já focado nos azulões, é então que cito MEUS MESTRES, Henrique de Passos MG, Aureo Ladeia de Belo Horizonte MG e Edward de Marilia SP. Serei eternamente grato a estas figuras, sempre foram e sempre serão, para mim, exemplos de criadores dedicados e apaixonados pelos bichos, detentores de um conhecimento empírico vasto, personagens que nunca se negaram a ajudar e contribuíram em muito para o que hoje sou como criador. Confesso que por influência destes, sempre fui defensor da LEGALIDADE, sei que quase a totalidade dos criadores de silvestres iniciou na ILEGALIDADE, mas nos dias de hoje, já não se justifica mais, é grande a quantidade de aves nascidas de maneira legal. Talvez por este motivo nunca fui muito bem visto no meio, e minhas verdadeiras amizades são poucas, pelo mesmo motivo, pouco participo de grupos nas mídias sociais, mas isto não foi empecilho para conhecer novos criadores, o que provo através da participação de muitos novos amigos em meus vídeos. De novas e antigas amizades é que desenvolvi um manejo próprio, entre erros e acertos, sigo tocando meu criatório.
AOG – Pode-se então falar que o manejo diferenciado, resultou no aprimoramento de sua criação?
Criatório QUINCAS – Sem dúvida alguma, se hoje consigo criar, obter bons resultados (e bons resultados, não necessariamente se traduzem em quantidade de filhotes, mas sim qualidade), é graças ao desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de manejo aplicadas no dia a dia do criatório. Não se pode parar no tempo. Todo criador tem que ser um grande observador, observar o seu criatório e o dos amigos. Meu avô, Seo11 Joaquim, ou Quincas, sempre me disse: “Aprenda com os erros dos outros, é mais barato.”, não somente barato em termos financeiros, mas, mais barato em termos de tempo e de frustrações. Observar tudo, filtrar o que é bom, e APLICAR. O segredo está em APLICAR o que se aprende. Muitos me procuram, ávidos por ajuda, mas se esquecem que de nada adianta aprender… se não aplicar.

“_ Amigo, me ajuda, meu pássaro tem um problema!
_ Ajudo sim, eu já tive bons resultados usando a técnica “x”.
_Obrigado!

Tempos depois…
_ E ai meu amigo? Sua ave está bem?
_Não!
_Não deu certo o procedimento?
_Não… eu não coloquei em prática.”

Este diálogo infelizmente acontece diariamente comigo, isto me entristece e me desmotiva.
Primeiros filhotes em 2010

Primeiros filhotes em 2010

 

AOG – Temos observado o crescimento de seu Canal no YouTube, onde o amigo propõe entrevistar vários criadores de sua região. Em que essas entrevistas e visitas beneficiaram sua criação em particular?
Criatório QUINCAS – Estes bate-papos são sempre muito enriquecedores, posso conversar 10 vezes com a mesma pessoa, 10 vezes vou aprender algo novo. A ideia inicial é a de divulgar a criação racional e doméstica do azulão. Achei que o mito do azulão não criar “em casa” já estivesse caído por terra, mas as mídias sociais me provaram o contrário, então, tento contribuir com minha parte para que isto acabe, e que em especial o azulão seja criado por muitos, Brasil a fora. A internet nos aproximou por demais, mas nada substitui a visita e o bate-papo, sempre digo que eu crio azulões, mas cultivo amizades. Bate-papos ao vivo, ainda são minha grande fonte de aprendizado.
AOG – Em seu canal do YouTube o amigo compartilha suas experiências no campo da criação e manejo de pássaros. Como tens recebido os feedbacks de seus seguidores? Essas trocas de experiências trouxeram benefícios a sua criação? Quais? Compartilhe conosco!
Criatório QUINCAS – O canal é muito enriquecedor para mim. Foi de onde tirei grandes amizades e por consequência grandes aprendizados. O canal fomenta a discussão, tudo começa nos comentários e acaba no Facebook ou no Whatsapp. É muito bom. Gostaria de poder me dedicar mais ao canal, mas ao mesmo tempo não consigo fazer dele uma novelinha, com compromisso e postagens diárias. Não condeno quem o faz, dá até para ganhar um dinheiro se tiver regularidade, mas não é o meu foco. Dificilmente vou pedir Likes ou inscrições. O canal chegou onde chegou (e sou muito grato a todos os que me apoiaram) de forma orgânica. O intuito é despertar nos criadores o interesse pelo novo e pelo aprendizado, inclusive posto tudo o que faço. O que deu certo e o que deu errado, a partir daí, vamos aprendendo juntos. O que me frustra por demais, são aqueles que se valem do anonimato e atacam a pessoa do Júnior e não as ideias do Júnior, sem contar os que vivem de intrigas e ficam jogando um criador contra o outro, quando na verdade deveriam estar buscando a união.
AOG – Júnior, quem quer iniciar uma criação hoje. Quais seriam os primeiros passos evitando erros desagradáveis futuros?
Criatório QUINCAS – Postei uma série de vídeos no meu canal recentemente que carinhosamente chamei de “bora começar”, fiz lá um resumo do que acho importante para começar. Mas de antemão digo que buscar a legalidade, consultando os órgãos do seu estado para criar obedecendo a legislação vigente, se aproximar de criadores bons – ideal é se filiar a um clube – , ter o consentimento da sua família e trazê-la para o hobby, adequar a sua criação a sua realidade de tempo, dinheiro e espaço, são itens fundamentais. Se não conseguir fazer apenas uma dessas situações, nem comece.
AOG – A Ornitofilia do Brasil evoluiu Júnior? No sentido amplo.
Criatório QUINCAS – Pergunta difícil. Se for no campo técnico, digo que evoluiu muitíssimo, acredito eu que em escala logarítmica. Hoje temos medicamentos, utensílios, gaiolas, coisas que nunca sonhei no início, falta apenas literatura mais acessível, mas isto virá com o tempo. Agora, se estivermos no campo humano da criação, infelizmente acredito no inverso, a burocracia e a legislação dificultam muito e por muitas vezes são sinônimos de retrocesso, a falta de amizade, engajamento e ilegalidades, são entraves para mudarmos a visão que a sociedade tem de nossa classe. Digo isto, porque é notório que trata-se de um mercado que movimenta muito dinheiro, e por isto, deve ser controlado. Sei que a burocracia é um mal necessário, mas em excesso, engessa e abre uma avenida para as ilegalidades. Isto distancia demais os criadores. Talvez, o maior motivo para eu ter me distanciado dos torneios, seja a ilegalidade e pouca amizade. Diante de tudo ainda acho o saldo positivo, temos sim, evoluído devagar, mas evoluímos.
AOG – Como é a Ornitofilia e como são os Torneios aí em sua região? Participa de torneios? Quais as modalidades envolvidas?
Criatório QUINCAS – Minha região é muito rica no âmbito da criação, temos grandes e bons criadores, é um mercado muito ativo. Tenho o privilégio de ter um clube na minha cidade, que promove grandes encontros e torneios, inclusive faz parte do calendário da COBRAP, temos etapas do campeonato brasileiro acontecendo aqui. Hoje, a grande coqueluche são os torneios de fibra, na modalidade de canto, acredito que somente os curiós e bicudos ainda resistam. Sinto falta dos torneios de canto livre e peito de aço. Ano passado arrisquei uma tímida volta aos torneios, mas confesso que criar e competir não é fácil .e quase nada do que sei vai me servir, ou seja, aprender sempre. Quem sabe posso um dia me envolver mais com meu clube e colabore para o renascimento destas outras modalidades.
AOG – Diante do seu sucesso, que inclusive repercute na preservação das aves, poderia dar dicas de melhorias para a nossa legislação ambiental? O que acha do controle do Ibama? E quanto à Fiscalização Ambiental?
Criatório QUINCAS – Acredito demais que a fiscalização é a saída para controlarmos a ilegalidade e o descaminho. O grande foco deveria ser os torneios, pois é lá que quase tudo acontece. A fiscalização deveria ter em um primeiro momento ser mais orientativa que punitiva, grandes criadores hoje se encontram bastante comprometidos muitas vezes por detalhes na legislação. Eu gostaria de uma legislação menos burocratizada e engessada, um sistema informatizado mais rico em relatórios e informações, mais moderno, situações como vinculação de anéis dificultam demais, a genotipagem das matrizes ajudaria muito para ajustar esta e outras situações. Facilidade na abertura de novos criatórios comerciais e quiçá incentivo por parte dos governos. Mas para uma fiscalização efetiva, os órgãos deveriam ter melhor estrutura e os envolvidos melhor preparo tanto técnico quanto humano. Eu não tenho do que reclamar em termos de atendimento, os postos do IBAMA e Secretaria Estadual do Meio Ambiente os quais precisei recorrer, sempre me atenderam muito bem, tive 100% dos meus problemas resolvidos de forma eficiente. O que ainda complica no meu caso, são a distância e a burocracia.
Criatório QUINCAS - Sr. Júnio e uma de suas aves

Criatório QUINCAS – Sr. Júnio e uma de suas aves

AOG – O amigo possui algum cargo na Ornitofilia? Existe alguma maneira de criadores amadores, contribuírem criteriosamente para o sucesso e preservação das espécies?
Criatório QUINCAS – Não, infelizmente. Envergonho-me inclusive de pouco colaborar com o clube da minha cidade. Acredito que deveríamos nos engajar mais, começando por fortalecer nossos clubes e associações. Com entidades consolidadas é mais fácil de conseguir representatividade e por consequência ter mais avanços para a categoria. Infelizmente hoje somos completamente desunidos e o que é pior, muitos torcendo contra.
AOG – Conte sua experiência em participar de encontros especializados com criadores de AZULÃO, nesses encontros, é possível aprender bastante e melhorar bastante seu manejo e criação enquanto criador dedicado? Pode apontar os principais benefícios dos encontros , e como eles podem ainda melhorar?
Criatório QUINCAS – Estes encontros são a “cereja do bolo”, participei de vários, mas em especial os dois promovidos pelo amigo José Eduardo de Siqueira Campos PR, proprietário do Criatório Big Bem, foram espetaculares. O que diferenciou-os? O clima de amizade e a presença maciça das famílias. O que posso querer de melhor? Família, paixão, amizade, comida boa e bom papo! Fico na torcida, para que cada dia mais estes encontros se espalhem pelos quatro cantos de nosso país, e quem sabe um dia, um encontro NACIONAL!!! O primeiro foi bom, mas o segundo foi melhor, contando com a presença maciça de criadores, praticamente 50, gente do RS, SC, PR, SP, MG. O próximo será em Horizontina RS, o amigo Christofer Kohler está ajustando as coisas por lá.
Encontro promovido pelo Criatório BIG BEN - José Eduardo de Siqueira Campos PR

Encontro promovido pelo Criatório BIG BEN – José Eduardo de Siqueira Campos PR

AOG – Prefere torneio ou encontros de criadores?
Criatório QUINCAS – São coisas distintas, eu prefiro um torneio onde grandes amigos se encontram, a competitividade não pode ser maior que a amizade. Da maneira que hoje estamos, sou mais os encontros. Já estamos preparando um com estas características que citei. Talvez um encontro nos mesmos moldes do último, mas com um torneio simultâneo, com prêmio simbólico, reunindo grandes competidores em clima descontraído. Não sou contra os torneios, mas acredito que precisem melhorar muito em estrutura, organização e participação.
Encontro criatório BIGBEN

Encontro criatório BIGBEN

AOG – És a favor do Pedigree do DNA na criação séria?
Criatório QUINCAS – SIM! Controle genotípico para todas as aves em ambiente doméstico utilizadas na reprodução. Sou a favor! Uma vez implantada, poderíamos usar até uma etiqueta de papel no lugar da anilha (força de expressão). Isto sim seria um controle efetivo das ilegalidades. Sem contar o ganho de confiabilidade na aquisição de aves juvenis (que seria um ótimo efeito colateral da medida).
Reprodução em cativeiro - Aprimoramento genético

Reprodução em cativeiro – Aprimoramento genético

 

AOG – Recentemente levantaram-se questões em relação às associações ornitológicas do Brasil, discutindo-se o fato de que todas parecem estar sempre de braços cruzados no quesito preservação, este, sem dúvida, o mais importante. Indaga-se a razão de tais associações nunca elaborarem sequer algum projeto de lei no qual se contemplem, além da criação particular criteriosa, os meios e recursos para construção e manutenção de uma reserva de proteção às aves. O que o amigo pensa sobre este tipo de atitude? Será que o melhor caminho – em sede de proteção e preservação de aves – seria mesmo passar-se a responsabilidade para quem realmente entende – uma entidade oficial específica?
Criatório QUINCAS – As entidades não estão de braços cruzados, infelizmente falta engajamento, não temos representatividade, pois as entidades são fracas por falta de apoio dos próprios associados. Muitas vezes, entre nós criadores, as discussões se dão no âmbito das pessoas e não das ideias, jogam criadores comerciais contra os amadores e vice e versa, alguém está ganhando muito com isto infelizmente. Acredito que já existam órgãos competentes, mas que hoje, são mal administrados e usados politicamente. Ainda acredito que tudo começa na base, clubes e associações regionais fortes, rapidamente nos trarão representatividade, e por consequência, seremos mais ouvidos pela sociedade e pelos órgãos de controle. Mas para isto precisamos de ENGAJAMENTO.
AOG – Como o Sr. vê a possibilidade de se pôr fim a ilegal captura de aves, retirando-as do seu habitat, conduta que põe em risco o meio ambiente? Existe algo que possa ser feito? Compartilhe conosco seus pensamentos.
Criatório QUINCAS – Sendo muito realista, não. Não vejo o fim da captura e do tráfico. Ambos nunca serão extintos. Mas podem ser controlados a ponto de não representar risco ao meio ambiente. Isto se deve a questões culturais e de falta de conhecimento do cidadão. Temos que combater com legislação eficiente (o que é diferente de rígida) e fiscalizações intensas. Os criadores tem que deixar de hipocrisia e começarem a fazer o que pregam. Isto com certeza virá com o tempo, acredito que estamos caminhando na direção correta. Um tanto devagar esta caminhada, mas no sentido correto.
AOG – Então, na sua concepção – na qualidade de criador ESPORTISTA (Modalidade Fibra e Canto) – como se pode obter o aprimoramento e a evolução, em sede de criação de aves? Do manejo específico? Ou há mais pontos a considerar? Por exemplo a seleção criteriosa de animais para esse fim?
Criatório QUINCAS – A evolução se dá pela vontade e necessidade do criador, que lança mão do conhecimento aplicando o mesmo, no dia a dia do criatório. Eu particularmente acredito que o resultado em torneio se dá em função do resultado criador + ave. As competições, são sempre disputadas em duplas. Se engana quem acredita que somente a ave compete. Acredito que um troféu é constituído de 50% bicho e 50% dono. Mas então, por que eu acredito tanto em genética? Porque ela faz parte do todo. Existem torneios hoje decididos por 1 ou 2 cantos, alto nível requer atenção aos detalhes, então genética é a base, é lá que tudo começa, não existe um único campeão, comprovadamente nascido em ambiente doméstico, que não tenha sido concebido com uma preocupação no cruzamento. Quer uma ave que cante e te traga alegrias? Tenha um bom manejo e ela vai corresponder. Agora, se você quer um pássaro de ponta. Comece pelo começo, conhecimento e genética. Não se tira leite de pedra. Um bom cruzamento, um bom desenvolvimento e treino, bom manejo no dia a dia, levam a uma dupla vencedora por longo tempo. Ganhar um troféu não é nada, manter o ritmo em alto nível é que são elas.
Criador Júnior - Proprietário do Criatório QUINCAS

Criador Júnior – Proprietário do Criatório QUINCAS

 

AOG – O que o Sr. acha do sistema SISPASS?
Criatório QUINCAS – Ultrapassado e obsoleto, infelizmente rico em dados, mas pobre em informações.
AOG – Como criador ESPORTISTA, quais os seus principais resultados positivos ao longo de sua estória como criador? Poderia falar sobre esses aspectos? Será uma forma de todos de nossa região terem conhecimento de sua criação.
Criatório QUINCAS – Tive alguns filhotes que se destacaram em torneios nas mãos dos amigos. Eu pouco tenho participado, pois não me familiarizo com o ambiente atual. Ano passado participei de alguns poucos, com resultados muito abaixo do esperado, justamente porque fui para uma competição com a cabeça de um criador. Aprendi a duras penas, que para competir tenho que ser competidor e não criador. Tiro o chapéu, para quem cria com qualidade e consegue competir. A partir deste ano, vou segurar os filhotes para desenvolver o encarte dos machos e quem sabe participar com eles em algumas etapas regionais. O problema de passar a prole, é que nem todos nos dão o feedback necessário. E para o criador, fica sempre a indagação: Será que na minha mão teria rendido mais?
AOG – Sabendo que existem criadores de má índole, como o amigo, um criador criterioso, trabalha com sua criação desde a reprodução até a venda, ou doação, como desejar chamar, do pássaro?
Criatório QUINCAS – Este é um dos pontos pelos quais nem todos gostam de mim. Pois não envio aves, dou preferência para que o criador possa visitar meu criatório, conhecer de perto o manejo, e é claro, uma oportunidade de eu conhecer o futuro “pai dos meus filhos”, olho no olho. Já teve gente que andou bastante, veio até minha casa e não deixei levar nada, porque não botei fé na capacidade de dar qualidade de vida aos bichos. Como tenho reproduzido bem pouco, prefiro doar ou trocar com os amigos que sei que cuidarão bem e darão dignidade aos bichos.
AOG –Quais os principais nomes de sua criação (Reprodutores)? E, sabendo que as fêmeas passam até 70% para os machos filhotes, como o Sr. trabalha sua criação a fim de melhorá-la ainda mais geneticamente? E que dicas poderia passar para os que desejam comprar um bom pássaro e de procedência?
Criatório QUINCAS – Hoje a base do meu plantel é o Toddynho, um paraná puro, encartado no dialeto 2020, bicho há 3 anos comigo, o Joia Rara, que já estava aqui há 9 anos, nos deixou recentemente, e por um problema de saúde (crescimento exacerbado do bico) não estava na reprodução, em 2019, chegou o Farrapo, um gaúcho, desenvolvido pelo amigo Wagner de Curitiba e me foi doado pelo Christofer do Rio Grande do Sul, se apresentou bem em alguns torneios no Paraná, ano passado finalizou as 3 rodas que participou com o melhor resultado, 66 cantos (criar e competir, não é para qualquer um), tenho ainda “o melhor do mundo”, o Diamante oriundo do Criatório Ivaí, e um filho do Flash do amigo Jonas de Curitiba. Com relação as fêmeas, dou preferência por raças que já deram certo, todas sem exceção foram escolhidas pelos resultados de seus pais. Gosto muito da mistura com o sangue mineiro e recentemente introduzi sangue puro argentino, visando a mestiçagem em busca da valentia característica desses indivíduos. Minha base de fêmeas é constituída por paranás puras, mineiras puras, argentinas puras, a partir de agora terei estas linhagens diluídas no sangue paraná. Os Machos sempre paranás puros, e agora terei argentinos puros.
Criatório QUINCAS - Azulão - Canto paraná 2020.

Criatório QUINCAS – Azulão – Canto paraná 2020.

 

AOG – Na criação de pássaro é possível emitirmos o pedigree e a comprovação de que se está comprando realmente um filhote com pais determinados e comprovados? Isso é uma criação séria e comprometida? Como o amigo procede para obter sempre credibilidade no mercado? E respeito entre os amigos criadores?
Criatório QUINCAS – Infelizmente ainda não é possível esta certificação. Existe sim muita seriedade na criação, não por parte de todos, mas asseguro, que criação de azulão para alguns, de amadora não tem nada. Credibilidade é algo que se conquista, não tem para comprar. Acredito muito em alguns velhos ditados para esta conquista: “Diga-me com quem andas que direi quem és.” E outro que diz: “Sempre faça o bem, sem olhar a quem.”
Criatório QUNCAS - Organização criacional (MANEJO)

Criatório QUNCAS – Organização criacional (MANEJO)

 

AOG – Pergunta do Internauta – Cruzamento entre irmãos? o amigo é a favor? Visto que, na natureza os pássaros comumente praticam isso sem o saber? E podem se reproduzir entre irmãos por até mais de 10 vezes sucessivamente a fechar e fechar no inbreeding (endogamia).
Criatório QUINCAS – Em ambiente controlado não é prática usual, a menos que se saiba muito o que está fazendo. Qual o problema? Em um cruzamento buscamos o aperfeiçoamento das boas características, mas de brinde, as más características também são potencializadas. No caso de consanguinidade horizontal (reprodução entre irmãos) isto é exponencialmente elevado, e comumente os casos ruins, são em maior número que os bons. Confesso que é feito por alguns criadores. Eu pessoalmente, com a experiência que obtive com os canários há muito tempo atrás, não me arrisco. Acredito muito na qualidade dos F2 e F3, por isto não uso hoje, a prática de cruzar irmão com irmã. Minha ideia é encontrar um cruzamento com bons resultados, fechar o sangue em F3, e só ai colocar para respirar este sangue com algo de fora.
AOG – Pergunta do Internauta | Queria saber como é possível cruzar o AZULÃO e não perder o desempenho em roda. Pode-se cruzar a sua fêmea de companhia para torneio? Tem período certo para cruzar? Compartilha sua experiência.
Criatório QUINCAS – Impossível responder sem testar. Tem indivíduo que aceita criar e competir, tem individuo que nem se apresenta, tem os que rendem pouco, e reconheço que tem os que tem ótimos resultados criando e competindo. O maior exemplo que conheço, é o azulão Zorro do amigo João Paulo, do Criatório Ivaí. No domingo cedo, o Zorro está tratando de filhotes, o João gala com ele, sai para o torneio, ganha a etapa, volta, gala e segue tratando de filhotes. Não existe fórmula pronta para torneio. O segredo das grandes duplas campeãs é observação, respeito e dedicação. Tem que testar.
AOG – Recentemente, nós da Associação Ornitológica de Gravatá – AOG, iniciamos a elaboração de um projeto, no sentido da obtenção de um espaço público destinado à construção da nossa sede. O objetivo primordial, justificador do projeto, é a constituição da primeira Reserva de proteção de aves do Estado de Pernambuco. Trata-se de um projeto complexo, que envolve inclusive, reeducação das famílias de caçadores. Primeiramente, abordaremos o tema da preservação nas escolas, e posteriormente criaremos empregos para essas famílias de guias turísticos. Por exemplo: Os que acompanharão os apaixonados na observação das aves, livres na natureza. Com isso, se fomentará o turismo de observação, ainda raro no Estado. Outro aspecto social do projeto envolve a questão da saúde, porquanto contempla a ornitoterapia que a exemplo da Espanha, pioneiros nessa matéria, usará aves no processo de estímulo dos sentidos em crianças e jovens com autismo, além de idosos, no abrigo local.
Criatório QUINCAS – Louvável atitude, torço muito para que vossos desejos se realizem, será um ato pela humanidade, quem dera ser seguido por outros amantes das aves.
AOG – Gostaria de agradecer sua atenção e por sua brilhante contribuição, de toda a importância para os apaixonados por aves.
Criatório QUINCAS – Eu é que estou muito agradecido em poder de alguma forma colaborar com o editorial. Coloco-me a disposição dos amigos, para ajudar no que estiver ao meu alcance. Sou um criador como outro qualquer, só tenho um canal no YouYube (risos). Também passo perrengue, não tenho respostas para tudo, primeiro porque pouco sei, não existem fórmulas prontas para a criação, também me frustro, aqui as coisas também dão errado, nem tudo são flores, igual a todos os criatórios espalhados pelo nosso Brasil. Desejo de coração muito sucesso a todos os amigos criadores, que Deus possa vos abençoar e também as vossas famílias. BORA CRIAR MEU POVO!!!
[1] “Seu”, nesse caso, é uma forma popular de abreviar a palavrasenhor”. Além da variação “SEO”, também é possível encontrar o termo, sobretudo em autores da primeira metade do século XX, grafado em itálico ou mesmo entre aspas, como forma de frisar sua essência “errada”.
Font|
https://www.facebook.com/notes/aog-associa%C3%A7%C3%A3o-ornitol%C3%B3gica-gravat%C3%A1-pe/entrevista-criat%C3%B3rio-quincas-azul%C3%B5es/672494046851009/
Você pode gostar desta postagem
Café da manhã com o criador Ricardinho e o seu multi campenão ASINHA
A AOG – Propõe-se entrevistar: Criatório Grajaú
Café da Manhã – Criatório Sonho Meu
Café da Manhã – Criatório Sem Stress

Fazer um Comentário