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Entrevistando DÁRSON ASTORGA DE LA TORRE – Titular do Canil | MAISON DELLA

Cinofilia-BR  –   A p a i x o n a d o s   p o r   C ã e s

Entrevistando DÁRSON ASTORGA DE LA TORRE

Titular do Canil | MAISON DELLA

Onde | Brasília-DF

Porquê | 

Brasileiro, solteiro, nascido em Itajubá-MG. Filho de pais cujas famílias fugiram da Europa pós II guerra mundial e se estabeleceram no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, onde nasci.

Sou Advogado, professor de línguas, literaturas e direito e Servidor Público Federal. Formado em Letras ( Português/Inglês), Especialista em Linguística Aplicada, Em Educação Comparada, em Ciência e Tecnologia, Em Direito Público e Sociedade. Mestre em Linguística Social e em Direito Constitucional e cursando Doutorado em Educação Jurídica, com ênfase em Direitos Humanos .

Sou o primeiro cinófilo de minha família. Comecei , em 1996, com Pastores Alemães e  Yorkshire Terriers. Atualmente , crio Papillons, raça que arrebatou meu coração em 1999.

 

E n t r e v i  s t a

Cinofilia-BR: Como se deu seu envolvimento com os cães? Qual a raça na qual iniciou?

Darson – Desde sempre estive envolvido com cães. Nasci numa família grande  cuja casa sempre teve e tem cães de raça e sem raça definidos. Cresci com cães a minha volta e sempre soube que jamais poderia passar um único dia da minha vida sem eles. Por coincidência, nasci no dia de São Francisco de Assis, fato que, do meu ponto de vista, explica muita coisa.

Meu envolvimento com a cinofilia, contudo, se deu de forma casual ( embora não existam acasos). Num lindo domingo de sol, muitos anos atrás, sabendo por amigos que estava ocorrendo um evento cinófilo em Brasília, fato que muito me interessava, mas que ainda não conhecia, resolvi ir ver. Eu era bem jovem e já gostava demais de cães .

O impacto daquele evento sobre mim foi instantâneo e , desde então, jamais cogitei deixar de ser cinófilo, mesmo nos meus momentos pessoais mais difíceis.

Na minha família nunca houve cinófilos antes de mim .

Eu tentei criar pastores alemães, mas iniciei mesmo com Yorkshire Terriers . Atualmente crio Papillons.

 

Cinofilia- BR| Como foi seu início na cinofilia? E Por quê continuar?

Darson – Me perdoe , mas a resposta a esta pergunta será extensa e será feita em três etapas. A primeira vai explicar como tudo começou. A segunda, a raça com a qual comecei e com a qual efetivamente passei a frequentar exposições. A terceira vai explicar a fase na qual estou e a raça que crio atualmente.

1) Costumo considerar que meu envolvimento com cães ocorreu com meu nascimento. Minha casa sempre teve cães, indivíduos que participavam da dinâmica da vida da família como membros dela própria. Na infância, um pastor alemão , de nome Buggy, foi melhor amigo. Este inesquecível companheiro  dormiu em meu quarto por muitos anos, fato que foi sempre considerado normal em minha casa.

Adolescente, continuei tendo pastores, já meus e não mais da família. Devo confessar que meu coração  sempre baterá muito forte pela raça que, inclusive, tentei criar e expor, mas que, por razões óbvias ( tenho apenas 1.60 de altura) nunca consegui apresentar razoavelmente.

Já cinófilo,  tive um pastor comprado de um grande criador de Brasília. Este lindo animal, de nome Quéops, viajou comigo pelo Brasil todo e foi o número 1 do país, pelo sistema CBKC, se não me engano em 2001 e 2002, tendo se classificado em diversos finais de exposição. Contudo, eu jamais consegui apresentá-lo pessoalmente, fato que me aborrecia muitíssimo.

2) Deste modo, considero que meu envolvimento físico e pessoal com a cinofilia propriamente se deu em 1996, quando comprei meu primeiro Yorkshire Terrier de exposição. Já nos primeiros 06 meses observei que aquele Yorkie não seria um cão de exposição, fato que me causou grande tristeza porque eu o havia comprado PARA exposição. Contudo, isto não me desanimou nem diminuiu minha vontade de criar aquela linda raça.

Yuri, este primeiro Yorkie, morreu faz apenas 1 ano, faltando poucos meses para completar 20 anos. Embora ele jamais tenha sido exposto, foi um amigo indispensável em minha vida e, com ele, aprendi a fazer compromissos cinófilos, especialmente o de jamais vender ou doar um cão de exposição que não tivesse mínimas condições de ser exposto.

A partir de 1998, meu canil começava a apresentar bons resultados em exposições . Neste ano, ganhamos o primeiro BIS filhote, numa grande exposição do Kennel Clube de Goiás, com um Yorkie apresentado por uma querida amiga, com quem eu havia feito co-propriedade do Maison Della BELLUS Benedictus. Este fato foi o pontapé que marcou o trabalho dos anos seguintes .

Para concluir a fase de criador de Yorkie, raça que por muitos anos foi a mais criada no Brasil, em 2004 fizemos o cão número 1 do país, na raça, feito que igualmente marcou minha vida. É que nos anos anteriores, a competição mais acirrada e de incrível qualidade ocorria quase que exclusivamente no eixo São Paulo- Rio – Belo Horizonte. Nos 10 anos anteriores a 2004, jamais houve um Yorkie número 1 do Brasil que não tivesse nascido ou sido grandemente exposto neste eixo de cidades. Maison Della FINIS Terrae, ainda viva, conseguiu este feito, tendo enfrentado e vencido  ( e também sido vencida, claro) todos os demais lindos yorkies que encantavam as exposições. Finnis se aposentou antes de fazer 4 anos, mas trouxe consigo a inesquecível vitória do ranking, 7 BIS adultos, quase 30 classificações em finais de BIS, 45 vitórias de grupo e um sem número de classificações de grupo. Realmente, um marco. Após o sétimo BIS que lhe conferia também o título de grande vencedora nacional, fato que ocorreu em meados de 2005, decidi cortar seus pelos e nunca mais criei outra ninhada. Com ela, concluí que havia chegado ao meu melhor e sabia que não conseguiria manter aquele nível de criação . Como já estava envolvido com outra raça, resolvi parar com yorkies, certo de que havia feito o meu melhor e de que havia angariado respeito e simpatia dos demais criadores.

3) Entre o inicio da criação de yorkies ( em 1996) e o fim ( 2005), um fato mudaria o rumo da minha vida cinófila. Este fato ocorreu em 1999, quando estava conhecendo uma das mais elegantes exposições do mundo, em Nova York. Naquele ano, um impressionante Papillon  – ganhador do BIS – capturou meu coração para sempre e me mostrou que eu queria mesmo era criar aquela raça. Só não soube disso antes porque nunca havia visto Papillons, raça raríssima no Brasil daquela época. Hoje percebo que o criador sempre sabe quando a raça da sua vida “apareceu”, porque o encontro é inesquecível, com direito a tremores, suspiros e impressionantes sonhos. Eu passei por isso no dia em que o vencedor do BIS de Westminster, naquele fevereiro de 1999, foi-me apresentado. Chorei de emoção !

Logo no ano seguinte, em 2000, importei meu primeiro Papillon, da Suécia, de uma das principais criadoras do mundo : Pepejas Kennel. Com ela aprendi a ser como sou na cinofilia. Seus ensinamentos poderiam e deveriam estar escritos num grande livro, tão sábias eram suas palavras, mas, claro, não as citarei aqui. Contudo, não posso deixar de citar que foi ela quem me estimulou a estudar os pedigrees à exaustão, a conhecer em detalhes as linhas de sangue , suas qualidades e seus problemas, inclusive de saúde, a estudar os acasalamentos como se fossem provas matemáticas. Também me ensinou a dar banho, secar e apresentar, tudo do ponto de vista da cinofilia nórdica, bastante diferente da nossa. Tais ensinamentos me permitiram chegar até aqui com tranquilidade e com relativo sucesso. Criei cães voltado para a  beleza e para a tipicidade, esquecido do comércio e preocupado com a melhor saúde possível. Também com aquela senhora, de nome Marie-Louise, aprendi que ganhar ou perder são circunstâncias tão naturais que não poderia sequer ter foco nelas. O bom trabalho é o foco. Os resultados não são o principal, mas decorrência do bom trabalho.

E, assim, sigo ainda hoje, trazendo nos sonhos a criação de lindos cães e venerando estas primeiras pessoas que Deus pôs na minha vida. Crio por amor aos cães e por paixão ao esporte , razões porque continuar criando torna a vida melhor.

Angel

Cinofilia-BR – Por que criar Papillons?

Darson – Então ( risos) , acho que acabei respondendo muito sobre isso na pergunta anterior, mas gostaria de ressaltar um fato : Papillons são lindos, elegantes, pequenos e muito inteligentes. Quando se mostram, impossível esconder detalhes da parte inferior de sua estrutura ( joelhos, jarretes, patas, dedos, unhas, almofadas etc.). Também muito difícil esconder movimento porque seu pelo não é longo o suficiente sequer para mascarar qualquer problema de estrutura ou movimentação. Finalmente, prepara-los para exposição requer pouco mais do que um banho e secagem honesta. Tudo bastante simples.

Cinofilia-BR – Quais os principais resultados obtidos por seu canil e seus cães?

Darson –  ( risos). Também falei um pouco disso no início, mas só da fase dos Yorkshire Terriers. Os Papillons consolidaram meu trabalho de criação e me realizaram como criador.

Em 14 anos criando Papillons, tive quase 50 Campeões, entre as diversas fases dos campeonatos, inclusive estrangeiros, de cães que moram no exterior.

Entre 2001  ( ano em que comecei efetivamente a apresentar os cães importados no ano anterior)  e agora, excetuando-se 2013/2014 , quando participei muito pouco da cinofilia por causa do Mestrado em Direito, ganhei o ranking nacional de cães por 10 vezes, inclusive no ano passado ( 2015).

Igual numero de vezes fomos o canil numero 1 do país.

Em 15 anos efetivos de criação , à exceção 2013/2014, nossos cães ganharam 39 BIS adultos, 7 BPIS,   2 BISS, mais de 50 vezes o grupo nove, isso sem relevar aqui as inúmeras classificações de BIS e de grupos. Considero superlativos esses números, especialmente se relevarmos o fato de que a raça ainda é bastante desconhecida do grande público cinófilo. Hoje existem Papillons em todas as regiões do Brasil, mas ainda somos poucos, muito poucos.

Além disto , tenho dois cães no exterior que me encheram de orgulho.

Maison Della Maximilian RAMSES é Campeão Americano ( o primeiro Papillon brasileiro a consagrar-se Am Ch, em 2007) e , também, foi Best of Winners  na Nacional de Papillons do Canadá, em 2007. Estes títulos, inéditos para mim, foram igualmente inéditos para o Brasil, pois nenhum outro Papillon obtivera tais resultados ANTES de 2007. Fomos os primeiros. Este mesmo Papillon veio depois a vencer grupos tanto no Brasil quanto no Canadá e vencer 2 BIS, no Brasil.

E, Maison Della STATUS Quo é Campeão Canadense ( 2007), multi group placed no Canadá e pai do Multi BIS OKKAK Magnus Lace Link, aka MAC.

BOW Canadian National

Cinofilia-BR – Um momento especial durantes esses anos de Criação?

Darson –

Foram muitos :

Em 2004, ter apresentado a Campeã Mundial da raça ( Menines Guardian Angel, mãe de vários dos meus melhores cães.

Em 2005, ter apresentado a vencedora da Américas e Caribe ( Maximilian Debu Maison Della), mãe de um dos smeus cães mais conhecidos no exterior.

Em 2007, ter vencido, com cão de minha criação, o best of winners da Nacional do Canadá, ( Maison Della Maximilian RAMSES) . Aliás, nesta mesma exposição fizemos o best of winners e o award of merit,  ( Maison Della STATUS Quo), com dois cães brasileiros, nascidos em minha casa. Foi uma inesquecível emoção.

Em 2012,  orgulho-me de ter realizado as primeiras exposições Especializadas de Papillon, do Brasil. No final, todos os cães eram meus, de modo que é irrelevante o nome de quem ganhou, mas releva o fato de ter realizado tais exposições julgadas por árbitros sensacionais : Douglas Sidebottom – da Austrália –  e Alberto Rizzi, da Argentina.

Animal Photographer

Cinofilia-BR | Como você vê os recintos de exposições caninas? E no tocante à imparcialidade dos árbitros, frente aos resultados que se têm observado nas exposições? Poder-se-á contar com imparcialidade!

Darson –  No Brasil, há locais grandiosos e outros, muito simples.  Lamento sempre a falta de ar condicionado, já que se trata de um país tão quente, mas compreendo que a realidade nacional dificulta este item de conforto. Via de regra, os dirigentes ( Presidentes e diretores) trabalham muito para a realização dos eventos, chegando mesmo a montar pistas, limpar o local, confeccionar prêmios etc. É fato que ainda somos um país artesanal, inclusive na cinofilia. Apesar da simplicidade dos locais, não me canso de parabenizar as pessoas que efetivamente trabalham para que tais eventos ocorram. Sem elas, sequer teríamos exposições.

Também considero os árbitros muito bons, mesmo os que possuem pouco conhecimento sobre minha raça, dada sua “raridade”. Acredito que qualquer julgamento deve levar em consideração o padrão da FCI, considerado o momento de evolução de cada raça, no mundo, e não propriamente o que o árbitro gostou ou a sua visão particular sobre a raça.

Considero que os padrões oferecem elementos técnicos suficientes sobre as raças e que a isenção do árbitro – impedindo que sua visão ou gosto pessoal  sobre determinado tipo, tamanho, cor etc., quando estes elementos não sejam realçados pelo padrão – são essenciais. É preciso que o criador ou apresentador compreenda o resultado do julgamento.  Considero essencial compreender a razão porque o árbitro prefere um cão e não outro, de modo que sempre que possível, retorno para ouvir dele(a) as razões que fundamentaram suas escolhas.

Igualmente necessário respeitar a opinião do árbitro, ainda que diversa da sua. Importante lembrar que a natureza humana comporta falhas e que errar não é privilégio de ninguém. Todos erramos. Por estas razões, considero excelentes os julgamentos feitos com fundamento no padrão , na técnica e na boa fé. E isso no Brasil há muito, em que pesem opiniões diferentes, que também respeito, mas das quais não compartilho.

Cinofilia-BR – Diga-nos 5 coisas que você gosta na cinofilia?
Darson – Adoro os cães e as pessoas, em geral. Gosto do cuidado dos clubes na organização dos eventos, por mais simples que estes sejam.  Gosto dos prêmios. Gosto do ambiente nos acampamentos e da maneira solidária como as pessoas se tratam, ajudando-se mutuamente.

Primus

Cinofilia-BR | Tenho-o visto apresentando seus animais, em exposições. Qual a importância de criadores e proprietários apresentarem seus animais? Será que você poderia compartilhar conosco um pouco de suas experiências no campo da apresentação canina em recintos cinófilos?

Darson – Considero essencial que o criador apresente seus cães ou , ao menos, alguns deles. É ele quem tem intimidade com sua criação e a ele os cães responderão da melhor forma possível. Cumplicidade entre o apresentador e cão apresentado é tão relevante quanto um bom grooming. Ademais, é o criador que deve mostrar ao árbitro sua interpretação do padrão e , quando necessário, explicar as razões porque cria cães de um tipo e não de outro.

Depois, acredito que o árbitro tenha melhores chances de avaliar um cão apresentado de modo mais afetuoso, o que demanda ligação entre apresentador e cão apresentado. Cães felizes se mostram por inteiro.

Observo que meus cães quase sempre estão mal apresentados porque eu os apresento de modo muito pessoal, sem técnica, mas todos percebem que estão seguros e confiantes, porque estou com eles. Formamos um time, um conjunto . Muitas vezes, não consigo perceber o “stay” ou o passo errado, por exemplo. Às Vezes corro com os cães, o que não deveria fazer já que Papillons são muito pequenos, mas a tensão é grande e eu simplesmente não consigo agir com a frieza necessária para ver detalhes técnicos errados da apresentação enquanto ela ocorre. Neste aspecto, acho os handler impecáveis. Minha apresentação é pessoal demais, mas são os meus cães, animais que dormem no meu quarto, que nascem na minha mão, que passam a vida comigo.

Sei que o trabalho do profissional é muito mais técnico, correto e tem melhores condições de mostrar as qualidades do cão. Contudo, enquanto eu conseguir, vou seguir mostrando meus animais, esperando que os árbitros consigam perceber as qualidades que eu muitas vezes não consigo ressaltar.

Cinofilia-BR | É importante ser Handler para apresentar cães? Que dicas você nos daria?

Darson.  Acho que é sim necessário ser profissional para apresentar cães, caso estes não sejam apresentados pelos criadores e/ou donos. Handlers são profissionais específicos para este fim e são muito treinados para este trabalho. Considero os handlers brasileiros verdadeiros pilares de alguns eventos e observo que , sem eles, a cinofilia seria muito menor e muito pior. Observe que falo tudo isto considerando o criador ou proprietário que não consegue ou não deseja ou não gosta de mostrar pessoalmente seus cães, o que não é o meu caso.

Dar dicas aos handler é impossível. Eles sabem bastante, mas recomendaria atenção à raça que é apresentada. Há muitos detalhes em cada uma delas.

Aos criadores e/ou donos, eu diria o seguinte: vista uma roupa legal, confortável, de preferência escura, ponha a guia em seu cão previamente treinado, e vá com Deus. Fale com seu cão durante a apresentação como se estivesse em casa, não se importando com o que os outros pensam ou dizem. Dê a mesma isca que você já usou em casa, nos seus treinamentos. Acaricie seu cão. Faça-o perceber que você está com ele, que aquela situação é normal e que tudo está e ficará bem. Isto basta !

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Cinofilia-BR – O que você gostaria de ver mudar na cinofilia?

Darson – gostaria que os locais tivessem ar condicionado e que , ao inscrever o cão em um evento, pudéssemos escolher para quantos e quais árbitros desejamos apresentar. Também gostaria de ver mais criadores apresentando seus cães.

Cinofilia-BR | Como criador que dicas daria para quem está iniciando no meio cinófilo e em especial com a criação de Papillons?

Darson – Fundamentalmente, ler o padrão e segui-lo, buscando desenvolver um tipo de cão que você goste, mas evitando acreditar que o tipo escolhido por você é o único correto.

Aprender a fazer mais autocrítica e criticar menos os demais. Lembrar que as relações de amizade com os árbitros não significam relações de cumplicidade e, como consequência, não esperar resultados que seu cão não possa ou não deva ter. Exercitar a paciência com quem inicia e o respeito com os que já iniciaram e chegaram onde você deseja chegar.

Criar cães típicos, de tamanho correto, pois tamanho é um dos maiores problemas na criação de Papillons.  Não confundir o exercício da medicina veterinária com a criação de cães. São coisas muito diferentes. Há bons médicos veterinários criadores , mas também há excelentes criadores que possuem outras profissões. A palheta de profissões nas sociedades modernas é extensa.

Cinofilia-BR – Você acha que poderíamos ter um grande evento anual aqui no NE? Exemplo: Exposições Internacionais e mais especializadas, feira de filhotes, stands de vendas de carros e de outros produtos, e ainda uma ótima parceria com uma empresa aérea, no sentido de otimizar o transporte de pessoas e de animais para esse evento?

Darson –  Acho sim, acho que o NE pode e merece organizar um evento de grandes dimensões, embora eu tenha sempre sido reticente com muitas “misturas” de coisas em exposições de cães. É que pessoalmente não gosto de feiras de cães, locais nem sempre ideais para os criadores mostrarem a qualidade de sua criação. Contudo, a experiência prova que eventos mais ecléticos, onde haja maior variedade de atividades, são muito propícios à divulgação da cinofilia, de modo geral.

Cinofilia-BR – Tenho conhecimento de seu trabalho no GOVERNO FERDARATIVO, Existe alguma maneira do obtermos apoio Governamental no tocante leis que possam ajudar os cinófilos em voos, fretados no território nacional?
Darson – Esse é um ponto de grande inflexão para mim. Já trabalhei com grandes autoridades do país e sempre que pude me dispus a divulgar a cinofilia e seus eventos. Mais de uma vez,  atuei junto à CBKC para evitar a aprovação de leis estapafúrdias e muito prejudiciais aos criadores de raças equivocadamente taxadas de “perigosas e agressivas ou assassinas”. Um exemplo recente foi o Projeto de Lei 300, de autoria de um senador do Mato Grosso do Sul, que pretendia proibir a criação de cães de 17 raças consideradas agressivas ( Rottweiler, Dobermann, Fila Brasileiro, Pit Bull e outros). Na oportunidade, atuei junto a uma comissão criada pela CBKC, com auxílio de diversos kenneis clubes pelo Brasil e cheguei mesmo a conversar com um importante ex Presidente da República, à época senador, que nos ajudou a parar a tramitação do Projeto de Lei, então já aprovado por algumas comissões do Senado Federal. Aquela foi uma experiência incrível porque o projeto já estava em fase de aprovação e tudo nele havia sido feito silenciosamente. Quando soubemos, fizemos uma mobilização muito rápida. Felizmente, deu certo. Contudo, alerto para o fato de que ainda existem em tramitação nas casas do Congresso Nacional diversos projetos com o mesmo teor. Não sei ao certo o número , nem os protocolos, mas isso pode ser feito com simples pesquisa ao site da Câmara e do Senado .

Também no nível dos estados e até dos municípios têm sido aprovadas legislações muito prejudiciais e restritivas à atividade de criação e à cinofilia, em geral. Multiplicam-se as opiniões desavisadas e superficiais de que a cinofilia pratica crueldade com os animais ou mesmo de que somos uma atividade semelhante à circense. Absurdos completos que, contudo, precisam de nossa permanente atenção.

Acredito que a ampliação das atividades planejadas , em eventos cinófilos, tais como palestras, shows , apresentações de cães das polícias militar e civil,  dos Bombeiros e da Polícia Federal, além de atividades demonstrando o trabalho de cães que atuam no resgate de pessoas e bens ou na recuperação de pessoas hospitalizadas, além das atividades de agility, podem nos ajudar a consolidar nossa importância social, como criadores de cães cuja beleza e comportamento sejam facilmente reconhecidos como ideais. Aliás, estes eventos já ocorrem na Europa e nos Estados Unidos faz muitos anos, muitas vezes organizados de modo conjunto com exposições cinófilas.

MD Papillons

Cinofilia-BR| Soube de suas importações. No que isso poderá contribuir para o melhoramento e tipicidade da raça PAPILLON  no país?

Darson –  Como sabem, ainda há poucos criadores da raça no Brasil. Agora até somos mais que uma dezena, mas em passado recente éramos apenas 3, de modo que era praticamente impossível renovar a carga genética dos animais.  Mesmo sendo mais que uma dezena, observo que uma parte desses novos criadores ainda não sentiu a necessidade de renovar sua linha de sangue. Eu sempre tive esta preocupação.

A cada três gerações ( filhote, pais e avós), faço uma renovação, introduzindo obrigatoriamente uma linha nova. O ideal seria fazer isso antes, mas , como iniciei com uma linha de sangue extremamente sólida e vitoriosa no mundo, e como importei mais que uma dezena de cães de uma só vez, pude postergar um pouco a renovação que agora faço.

Como disse em outro tópico, acho muito relevante estar sintonizado com o que ocorre no exterior. Em vários países de grande cinofilia, a criação de Papillons está entre as 10 maiores. Em outros, a raça tem histórico de vitórias impressionantes. Procuro aproveitar a experiência dos criadores desses países e faço, sempre que posso, um intercâmbio, tanto de animais  quanto de conhecimento.

Sempre importante lembrar que cães, à exemplo das demais criaturas, são seres vivos e naturais e , como tal, estão em constante evolução, buscando adaptar-se ao meio ambiente e às suas próprias necessidades de sobrevivência, mantendo-se no tempo.

Deste modo, acredito que meus cães estejam em sintonia com o restante do mundo. Busco importar somente o melhor, de criadores consagrados, tanto pela beleza, quanto pela saúde de seus cães. Modestamente, acredito que a longevidade dos meus cães tem demonstrado que, ao menos do ponto de vista da saúde, tenho acertado mais do que errado.

Cinofilia-BR – Já estou no mundo da cinofilia desde 1986. Desde então tenho visto lindos animais, mas, sempre me perguntei: Como os criadores fazem para obter animais tão belos? Como eles conseguem ninhadas homogêneas? Creio que outros apaixonados por cães também gostariam de saber. Poderia compartilhar?

Darson –  Sinceramente, o animal lindo – e também o feio – nasce em todas as casas. Claro que ninguém apresenta o feio, o incorreto e o atípico, mas estou certo de que estes nascem em todas as casas. Tudo é uma questão de senso crítico e de responsabilidade com a raça, mais do que com os rankings.

Eu sou muito crítico com minha criação e apresento somente o que tenho de mais bonito e melhor. Raramente o ranking me influencia no sentido de apresentar quantidade. Busco , como meta, como sonho, como ideal, somente o melhor, seja criado na minha casa, seja adquirido no exterior. Meus cães não sabem exatamente onde nascem. Em casa, convivem como uma família . Portanto, não tenho problemas em apresentar  e promover ao máximo cães nascidos em outros canis. Observe que , dos vários cães que apresentei ao longo de 15 anos, pelo menos  6 estrangeiros venceram o ranking nacional da raça. Portanto, acho que este é o segredo ( risos): muitos dos cães que você  vê ( e que acha que são de minha criação) são, na verdade, criados em outros excelentes canis. E eu me orgulho muito de ter a consideração destes excelentes criadores que me reputam merecedor de apresentar suas melhores criações, mesmo no Brasil, palco distante dos cenários mais favoráveis à raça.

Cinofilia-BR – Fale um pouco sobre o seu sistema de criação, nutrição, além, é claro, do veterinário e de sua importância?

Darson – Criamos cães em família, soltos, dentro de casa, dormindo nos quartos e nas camas. Troco móveis com grande frequência e uso fraldas nos machos.  Minha cama tem, pelo menos, 10 cães por noite ( risos). Aliás, meu quarto se tornou uma espécie de UTI-asilo. Dos cães que tenho, 12 estão muito velhinhos e têm graves problemas de saúde, como qualquer idoso. Assim, para poder atende-los com rapidez, eles dormem no meu quarto. É uma feliz UTI, com muitos abraços, beijos, latidos e disputa do melhor espaço.

Os demais, criamos soltos na maior parte do dia. Há também largas corredeiras externas onde eles se exercitam. Tudo é telado, para evitar insetos. Fazemos rodízios dos grupos por noite, para irem para dentro dos quartos, de modo que todos dormem nos quartos , ao menos três vezes por semana. Quando dormem no canil, dormem em confortáveis camas e com temperatura refrigerada. Papillons precisam ter bela pelagem.

A alimentação é simples : ração ( todos os dias, duas vezes ao dia). Em uma das vezes, acrescentamos carnes  (de gado, peixe ou frango). À noite, sempre damos um pedaço de queijo branco e um “snack”, para limpar dentes e exercitar a gengiva, depois da ração pura. Eventualmente ( fêmeas gestantes ou lactantes ou cães com necessidades específicas em função da idade), suplementamos com vitaminas manipuladas em laboratório veterinário.

Considero o médico veterinário essencial em nossas vidas. Como todos sabem, sou advogado e professor de literatura e direito, mas meu maior círculo de amigos é constituído de médicos veterinários. Felizmente, em minha família há três, todos cursando Doutorado e lecionando, de modo que eu abuso enormemente do conhecimento deles.

Em casa, temos um médico veterinário principal, que é o primeiro que vemos, em qualquer problema. Este profissional, autor de livros e de artigos publicados inclusive no exterior, é como um irmão.

Cinofilia-BR | Há parcerias, no âmbito da criação seletiva e de melhoramento? Você chegou a ser procurado no Brasil por criadores que buscam aprimorar a linhagem de sangue de seus animais, para o melhoramento de seus plantéis? Isso existe aqui no Brasil?

Darson –  Sim, temos várias parcerias, no Brasil e no exterior. No exterior,  temos parceiros na Suécia , no Canadá e nos Estados Unidos, importantes países na criação de Papillons. No Brasil, temos parceria com grandes amigos : um em Belo Horizonte, parceira já mais antiga e de muito sucesso, e outra mais recente, em Santa Catarina.

Fomos sim procurados por quase  todos os novos criadores. Infelizmente, pouco pude ajudar à época, porque estava me dedicando à pós-graduação e não criei ninhadas , por quase 4 anos. Contudo, tentei ajudar a todos, embora alguns tenham atualmente exclusiva proposta comercial. A estes eu não ajudaria novamente, especialmente porque, preocupados com quantidade, entendo que eles não têm contribuído com a raça. Mas, este é outro assunto…( risos).

Darson caes

Cinofilia-BR| Como você realiza seus cruzamentos? Usando Outcrossing ou In Breeding?
Darson –  Penso que as estratégias de criação não são excludentes e , embora distintas, são todas viáveis e necessárias em momentos específicos da criação. Em casa, acasalamos sempre naturalmente, usando basicamente line breeding, que é um meio termo entre inbreeding e outcrossing.  Isto porque, como já disse em outro tópico, tive o privilégio de começar com cães de alta qualidade, oriundos de linhas de sangue já consagradas no mundo , de modo que não aproveitar o trabalho de muitos anos dos criadores que me apoiaram no início não teria sido inteligente. Contudo, embora não seja completamente desfavorável ao inbreeding puro , recomendo moderação aos que utilizam apenas esta estratégia de criação.  Acho que há momentos em que é preciso fortalecer características muito desejáveis, o que é mais rapidamente obtido com inbreeding. Porem, há outros momentos em que é preciso oxigenar a linha de sangue pela introdução de indivíduos que não tenham qualquer relação de proximidade entre seus ancestrais. O mais importante é perceber o momento e a intensidade de cada estratégia de criação, relevando que todas têm vantagens e desvantagens. Assumi-las , após o necessário conhecimento, é o que faz o sucesso de uma criação.

Cinofilia-BR – Sabendo que uma boa fotografia ou vídeo vende um animal, até que ponto mexer ou não na fotografia é importante? E se isso acontecesse você informaria ao seu futuro comprador que a foto seria meramente ilustrativa?

Darson – Pessoalmente, não gosto das alterações, exceto em detalhes que não modifiquem essencialmente o animal. Estrutura, por exemplo, não deve ser mexida. Luz, nitidez e mesmo cores podem ser intensificadas ou atenuadas, dependendo da estratégia da foto. Particularmente, não  promovo  animais por fotos exatas, demarcadas, de pódio. Gosto da foto arte, aquela que mostra e esconde, que insinua, que revela detalhes que identificam a raça. Acho que fotografia é arte e, como tal, deve ser surpreendente e viva, saltando da tela  ou da revista diretamente ao coração quem a vê. Aliás, gosto muito de suas fotos, Bruno. Parabéns !

Cinofilia-BR | Você é a favor da castração? Que benefícios ela lhe traria no tocante a uma seleção de animais para exposição?

Darson – Sim, sou. Animais que não participam de exposição ou que não sejam usados na criação , mesmo quando não são vendidos, devem ser castrados. Acidentes com animais íntegros sempre ocorrem, isso sem falar na saúde do animal. Neste ponto, acho que os veterinários falam com muito mais propriedade do que eu. Em casa, castramos todos que estão apenas curtindo a vida…

C-BR| Você é a favor da eutanásia? Em que momento você a usaria em um sistema de criação e seleção de animais para exposição de beleza. Pergunto isso, por causa da polêmica ocorrida no programa Animal Planet, quando esse tema foi abordado no sentido de a eutanásia ser usada como mecanismo decisivo no processo de seleção animal da raça RHODESIAN RIDGEBACK (Crista de cabelos que cresce em sentido contrário ao longo do dorso do Rhodesian), mas que certamente pode ser estendida a qualquer raça canina, já que é do conhecimento geral que todas as raças possuem suas deficiências genéticas?

Darson – Sou a favor da eutanásia somente como questão humanitária, diante de moléstia incurável que cause intensa dor e insuperável indignidade. Como seleção, acho odioso. Sempre haverá alguém para quem doar um animal discordante dos padrões cinófilos. A mera castração deste animal discordante pode resolver o problema da disseminação de carga genética indesejável. Deixe viver aquele que pode ser feliz e digno e dignidade não é atributo exclusivo do ser humano. Sou, portanto, contra a eutanásia para fins de seleção de indivíduos não identificados com padrões de raças.

Cinofilia-BR | Darson: é importante se especializar na criação de uma única raça ou não? É possível criar bem raças diversas?

Darson – É bastante desejável concentrar esforços em uma raça, mas é possível, com grande esforço, criar mais de uma. Eu crio apenas uma. Ao menos, uma por vez.

Cinofilia-BR – Quantidade é ter qualidade? Como você trabalha sua criação nesse sentido?
Darson – De jeito nenhum. Quantidade e qualidade não andam juntas. Uma é número; outra, característica. Às vezes, quem tem espaço para ter mais cães pode esperar mais para identificar a melhor qualidade, mas, feita a escolha, é essencial dispensar a quantidade. Falo isso porque eu não fiz nada deste jeito e , por isso, cheguei a ter 60 cães numa casa onde poderia ter , no máximo, 30. Claro que meu relacionamento com eles ficou comprometido e considero o envolvimento, o amor, o dia-a-dia conjunto a melhor parte da cinofilia.

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